História do CEA
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O Centro de Estudos Anglicanos (CEA) foi criado em 1997 pelo Sínodo da IEAB como uma instituição capaz de articular a formação teológica em nosso país. Subordinado à JUNET (Junta Nacional de Educação Teológica), diversas atribuições foram conferidas inicialmente ao CEA, dentre elas a responsabilidade de acompanhar, assessorar e subsidiar as iniciativas diocesanas através de publicações, eventos, etc.
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
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Primeiros passos do Anglicanismo no Brasil
Os anglicanos celebram a sua liturgia em terras brasileiras desde 1810, através de várias capelanias espalhadas pelo país e subordinadas à Igreja da Inglaterra. Essas foram as primeiras igrejas não-romanas est abelecidas nestas terras.
Entretanto, a igreja voltada especialmente para os brasileiros começou intencionalmente em 1890. Foi nesse ano que dois missionários americanos, Lucien Lee Kinsolving e James Watson Morris, organizaram a missão em Porto Alegre. O primeiro culto foi realizado na tarde do dia 1o de junho de 1890, Domingo da Trindade, em Porto Alegre, na Rua Voluntários da Pátria, 387, numa ampla casa alugada, que ficou conhecida como Casa da Missão. Na época, a cidade tinha aproximadamente 60 mil habitantes. No ano seguinte, chegaram os missionários William Cabell Brown, John Gaw Meem e a professora Mary Packard. Esses cinco missionários podem ser considerados como os verdadeiros fundadores da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) em solo brasileiro. Em seguida, estabeleceram missões em Santa Rita do Rio dos Sinos (hoje Nova Santa Rita), Rio Grande e Pelotas. Essas três cidades e a capital do Estado logo se transformaram em importantes pontos estratégicos e centros irradiadores da expansão e do desenvolvimento da nascente igreja.
Desde o início, os missionários contaram com a imprescindível participação de muitos brasileiros. Entre esses intrépidos pioneiros e destemidos arautos do evangelho estão Vicente Brande, o primeiro a acolher os missionários em Porto Alegre; Américo Vespúcio Cabral, grande pregador e por isso conhecido como o "São João Crisóstomo brasileiro"; Antônio Machado Fraga, que ajudou a fundar a então Capela de Redentor em Pelotas, hoje catedral diocesana, e depois ele mesmo fundou o trabalho em São Leopoldo e Montenegro; Boaventura de Souza Oliveira, que se juntou aos missionários ainda em São Paulo para vir ao sul com a família; Júlio de Almeida Coelho, que trabalhou a maior parte de seu ministério em Jaguarão e São Gabriel; Antônio José Lopes Guimarães, fundador da igreja em Bagé; e Carl Henry Clement Sergel, um ex-bancário inglês que ajudou William Cabell Brown a estabelecer a igreja no Rio de Janeiro e que construiu as igrejas de Santa Maria e Santana do Livramento. Esses pioneiros clérigos nacionais ajudaram também a implantar a igreja em Viamão (1895), Jaguarão (1898), Santa Maria (1900), Bagé (1903), São Leopoldo (1904), São Gabriel (1906), Rio de Janeiro (1908) e em muitas outras cidades e zonas rurais, principalmente no Rio Grande do Sul, onde se concentra a maior parte.
Muitos outros vieram depois e implantaram igrejas e capelas em vários lugares do território nacional, seguindo um movimento de expansão em direção ao norte.
o ministério episcopal no brasil
Em 1899, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil teve seu primeiro bispo na pessoa do Revmo. Lucien Lee Kinsolving. Agora, o tríplice ministério da Igreja (bispos, presbíteros e diáconos) estava completo. Em 1907, a nova missão brasileira se transformou em distrito missionário, vinculado à Conv enção Geral da Igreja Episcopal dos Estados Unidos. Em 1925, a Igreja teve o seu segundo bispo : o Revmo. William Matthew Merrick Thomas, um missionário que havia chegado ao Brasil em 1904. Primeiro como bispo sufragâneo e depois como bispo diocesano, Thomas consolidou o trabalho desbravado por Kinsolving. Mas o primeiro bispo brasileiro só veio em 1940, com a sagração do Revmo. Athalício Theodoro Pithan como bispo sufragâneo, quando a Igreja Episcopal completou 50 anos de atividades no Brasil. Com a aposentadoria do Bispo Thomas, foi sagrado nos Estados Unidos o Revmo. Louis Chester Melcher para ser nosso bispo coadjutor.
A Igreja crescia e as distâncias entre as comunidades locais aumentavam, dificultando o atendimento das paróquias e missões espalhadas por todo o país. Era preciso reorganizar o distrito missionário. Deu-se o início ao processo que resultou na divisão do distrito em três dioceses. Isso foi em 1950. A nova divisão era formada por três regiões eclesiásticas: Diocese Meridional, com sé em Porto Alegre (RS); Diocese Sul-Ocidental, com sé em Santa Maria (RS); e Diocese Central (hoje denominada Diocese Anglicana do Rio de Janeiro), com sé na ex-capital federal.
Em um primeiro momento, Dom Melcher assumiu a Diocese Central e Dom Pithan, a Diocese Meridional. Para a Sul-Ocidental, foi sagrado o Revmo. Egmont Machado Krischke. Já com três dioceses, deu-se o primeiro Sínodo, reunido em Porto Alegre, em 1952.
A aposentadoria do Bispo Pithan e a resignação do Bispo Melcher levaram à sagração de mais dois bispos: o Revmo. Plínio Lauer Simões, em 1956 e o Revmo. Edmund Knox Sherrill, em 1959. Ao primeiro, coube a Diocese Sul-Ocidental (já que Dom Krischke havia sido transladado para a Diocese Meridional com a aposentadoria de Dom Pithan) e ao segundo, a Diocese Central. Já estavam trilhados os passos que levariam à autonomia provincial do Anglicanismo brasileiro.
novos horizontes
Em 1965, veio a autonomia administrativa, quando a Igreja brasileira se transformou na 19a Província da Comunhão Anglicana e elegeu o seu primeiro bispo primaz na pessoa do Revmo. Bispo Egmont Machado Krischke. O processo de emancipação da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, até então dependente da igreja americana, se completou com a independência financeira adquirida em 1982.
Novas dioceses foram criadas após o desmembramento: Diocese Sul-Central (atual Diocese Anglicana de São Paulo) em 1969, Diocese Setentrional (atual Diocese Anglicana do Recife) em 1976, Diocese Missionária de Brasília (atual Diocese Anglicana de Brasília) em 1985, Diocese Anglicana de Pelotas em 1988, Diocese Anglicana de Curitiba em 2003 e Diocese Anglicana da Amazônia em 2006. Há, ainda, o Distrito Missionário do Oeste.
Mulheres começaram a ser ordenadas em 1985, após a decisão favorável à ordenação feminina do Sínodo de 1984. Atualmente, cerca de 30% do clero é composto por mulheres, as quais ocupam o diaconato e o presbiterado. Não há ainda mulheres-bispos, embora os cânones não impeçam sua existência.
Hoje, a IEAB tem templos, missões e instituições educacionais e assistenciais em mais de 150 diferentes localidades do país, boa parte localizada no Sul do Brasil. Ao longo de sua já centenária história, a Igreja do Brasil acumulou uma relação de mais de 100 mil membros batizados e 45 mil confirmados.
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Adaptado dos livros “Notas para uma história da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil” de Oswaldo Kickhöfel e “A Igreja Militante”, de N. Duval da Silva
História do Anglicanismo
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Dos primórdios até a idade média
As raízes da Igreja Anglicana estão na primitiva igreja cristã surgida na Inglaterra desde os tempos dos Pais da Igreja. Foram eles que disseminaram a mensagem do evangelho aos mais diferentes e longínquos lugares do mundo. Um desses lugares foram as Ilhas Britânicas, onde o Cristianismo chegou por volta do final do segundo e início do terceiro séculos da era cristã. Ali, se desenvolveu de maneira local e independente (a chamada Igreja Celta). No final do século VI, um grupo de 40 monges, chefiados por Santo Agostinho de Cantuária, chegou ao Reino de Kent – localizado no atual Sul da Inglaterra – para converter os anglo-saxões. Ao chegar lá, ele foi recebido por cristãos celtas da Igreja de São Martinho (a qual recebeu esse nome em homenagem a São Martinho de Tours), em Cantuária.
A Igreja Celta tinha simplesmente evitado as heresias cristológicas dos séculos IV e V, que foram sedimentadas no Concílio de Niceia, Efeso e Calcedônia. Em 603 d. C., Santo Agostinho chamou representantes da Igreja Celta numa tentativa de convencê-los a se submeter às práticas e disciplinas romanas, mas eles se recusaram. Santo Agostinho morreu em 605, mas a questão das diferenças entre a Igreja Britânica e a Igreja Romana continuou sendo motivo de controvérsias. Finalmente em 664, em Whitby, na Nortúmbria, a questão foi resolvida em Concílio, por votação, e através do decreto do rei Oswy.
A obra missionária iniciada por Santo Agostinho foi consolidada por Teodoro de Tarso, monge grego que foi enviado pelo Papa em 669 para tornar-se o sucessor de Agostinho como o segundo Arcebispo de Cantuária. Ele foi enviado para remover as características peculiares do cristianismo céltico e convocar o primeiro Sínodo nacional da Igreja na Inglaterra: O Concílio de Hertford (673).
Durante toda a Idade Média a Igreja Inglesa estava submetida à Igreja Romana. A Inglaterra, como os demais países da Europa, fazia parte e dava sustento ao sistema papal vigente, contudo devido à distância que a separava de Roma, desenvolveu-se desde muito cedo uma Igreja com características estatais e nacionalistas. A Igreja na Inglaterra sempre reclamou a sua independência histórica, e mesmo que durante 850 anos ela tenha sido nominalmente romana, a sua relação com o papado sempre foi conflituosa. Henrique VIII apenas separou a igreja autônoma que lá existia da tutela de Roma.
variabilidade litúrgica e teológica
A reforma inglesa do século XVI havia produzido três partidos ou tendências na Igreja da Inglaterra: o Broad Church Party (igreja ampla), o High Church Party (igreja alta) e o Low Church Party (igreja baixa).
A igreja alta foi revigorada no século XIX pelo Movimento de Oxford. Os anglo-católicos buscaram restaurar elementos teológicos e litúrgicos da Igreja Britânica Pré-Reforma. Usavam no culto público o uso de imagens, velas, crucifixo, incenso, água benta, invocação aos santos e confissão auricular. Foram vitais no renascimento das ordens monásticas anglicanas.
A igreja baixa primava pela simplicidade do cerimonial litúrgico e espírito evangélico de evangelização. Teologicamente, eram protestantes clássicos, reconhecendo certos elementos católicos como os sacramentos e o episcopado histórico. Os anglo-evangélicos foram os grandes responsáveis pelo reavivamento evangélico na Inglaterra e em outros países, com forte preocupação missionária.
A igreja ampla era, de início, um grupo minoritário, mas muito influente devido às suas posições moderadas. Sempre foram o fiel da balança entre o ritualismo anglo-católico e o despojamento evangélico. Hoje, pode-se dizer que boa parte de nossas paróquias enquadra-se na igreja ampla.
O Anglicanismo também é caracterizado por sua flexibilidade teológica. Por ser uma igreja não-confessional, é permitido aos anglicanos discordar em assuntos não-essenciais de nossa fé, descrita nos credos históricos. Também não possuímos um teólogo de vulto ou grande reformador, centrado no qual traçamos nossa teologia. Pelo contrário, lançamos mão do que escreveram grandes homens e mulheres cristãos, não necessariamente anglicanos, ao longo da história da Igreja.
O chamado tripé Escritura-Tradição-Razão é o cerne do modo de se fazer teologia anglicano. Simboliza que esses três elementos devem estar em equilíbrio constante, a fim de perceber o que o Espírito Santo está a dizer para a Igreja.
Uma família de igrejas autônomas
Com a colonização da América, a a Igreja da Inglaterra (ou Igreja Anglicana) foi estabelecida em muitas colônias como a Igreja Estatal. A Igreja Episcopal Escocesa também havia desenvolvido vida própria. Depois que os Estados Unidos se tornaram independentes, a Igreja Anglicana naquele país se tornou uma denominação livre do poder civil, criando dioceses, paróquias e instituições, e tomando o nome de Igreja Episcopal dos Estados Unidos. Tanto a Igreja da Inglaterra quanto a Igreja Episcopal dos Estados Unidos iriam patrocinar diversos trabalhos missionários ao redor do mundo.
Com o surgimento de diversas províncias e igrejas nacionais na tradição anglicana, tornou-se necessário definir uma Comunhão Anglicana: uma família de igrejas anglicanas e episcopais em comunhão histórica com a Igreja da Inglaterra e especificamente com a Sé de Cantuária. A palavra anglicana, antes de significar inglês, representa uma grande família cristã internacional. Tal comunhão foi formada pelo desmembramento de trabalhos missionários e ex-colônias do mundo britânico, formando 44 igrejas nacionais ou regionais ao redor do mundo, e compreendendo mais de 160 países. Com cerca de 80 milhões de membros, a Comunhão Anglicana é a terceira maior denominação cristã do mundo, depois da Igreja Católica Romana e das Igrejas Ortodoxas.
Há atualmente três Instrumentos de Comunhão para a Comunhão Anglicana:
- A Conferência de Lambeth, que se reúne a cada 10 anos, e é um ponto de encontro para os bispos da Comunhão Anglicana. Seu primeiro encontro foi em 1867.
- Os Encontros dos Primazes são reuniões regulares para os arcebispos e bispos primazes das 38 províncias, os quais se reuniram pela primeira vez em 1979.
- O Conselho Consultivo Anglicano se reúne a cada 3 anos aproximadamente, e inclui bispos, membros do clero e laicato, selecionados pelas 38 províncias da Comunhão Anglicana. Reuniu-se pela primeira vez em 1971.
O Arcebispo de Cantuária é o Foco para a Unidade desses três Instrumentos de Comunhão e é, consequentemente, um foco único de unidade anglicana. Ele conclama a Conferência de Lambeth uma vez a cada década, encabeça o Encontro dos Primazes e é o presidente do Conselho Consultivo Anglicano. O Reverendíssimo Rowan Williams é o 104o Arcebispo de Cantuária. Ele foi entronizado na Catedral de Cantuária no dia 27 de fevereiro de 2003.
Texto adaptado dos artigos “Apontamentos de História da IEAB”, de Oswaldo Kickhofel e “Reforma Anglicana”, de Gecionny Pinto, e do site da Comunhão Anglicana
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