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Algumas dúvidas sobre assuntos pertinentes ao Anglicanismo podem ser esclarecidas nesta seção.

 

 
1- O Anglicanismo é uma religião?
A palavra “religião” é compreendida de muitas formas. Algumas vezes as pessoas a utilizam para fazer referência a diferentes denominações ou tradições cristãs. Então, ouvimos que alguém é da “religião” Católica Romana ou da “religião” Batista… Aqui não utilizamos o termo “religião” com esse significado, mas nos referindo a um sistema de crenças e de visões do mundo que nos relaciona com o sagrado. Nesse sentido somos um ramo da religião Cristã, parte da Igreja “una, santa, católica (universal) e apostólica” de nosso Senhor Jesus Cristo.

2- É uma igreja Evangélica ou Católica?
A Igreja Anglicana se desenvolveu como resultado das reformas do cristianismo que aconteceram no século XVI no continente europeu. Durante o longo processo de reforma, a Igreja na Inglaterra procurou incorporar as novas propostas do protestantismo e, ao mesmo tempo, conservar os aspectos positivos da sua tradição católica. Neste sentido costuma-se dizer que é uma “Igreja Católica Reformada”. Justamente por conservar elementos do catolicismo e do protestantismo, ela é considerada como uma outra via, outra expressão do cristianismo.

3- É uma igreja brasileira?
A Reforma Anglicana aconteceu num país específico: a Inglaterra. Todavia com o trabalho missionário a Igreja Anglicana se espalhou pelo mundo inteiro. Com o passar dos anos, isso fez com que se formassem Igrejas independentes em diversos lugares do mundo. Essas Igrejas como possuem a mesma tradição de fé, a mesma história comum e laços de afetividade estão unidas na denominada “Comunhão Anglicana”. No caso brasileiro, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil é uma Igreja brasileira, independente e autônoma que faz parte dessa comunhão mundial, tendo como referência de unidade a sede de Cantuária na Inglaterra.

4- Posso casar na Igreja Anglicana sendo de outra religião? Posso batizar uma criança na Igreja Anglicana sendo de outra religião?
Nós incentivamos que cada pessoa procure a sua comunidade religiosa para realizar seus atos de fé. Se você é do Candomblé faça o seu casamento no Terreiro. Se você é judeu faça o seu casamento na Sinagoga. Todavia, reconhecemos que existem circunstâncias especiais que fazem com que sejamos procurados por casais de outras religiões para celebração do matrimônio e tratamos cada caso pastoralmente. Não temos uma ética de princípio, onde se afirma “pode” ou “não pode”, analisamos cada situação no seu contexto. Mas existem duas exigências básicas na lei (Cânones) da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil para realização do casamento religiosos: 1) Um dos cônjuges precisa ser cristão batizado; 2) O matrimônio só é realizado na Igreja Anglicana com o casamento civil. Também é comum que o (a) ministro (a) da comunidade solicite que você frequente celebrações e participe de encontros de preparação.

Mesma coisa com relação ao batismo, procure a comunidade religiosa na qual você se congrega. Caso você faça parte de uma Igreja Cristã que não batiza crianças, espere o tempo certo. Se você pertence a uma religião que não tem o rito do batismo, não realize o ato sacramental apenas por uma questão cultural. Novamente, muitas vezes somos procurados por famílias que possuem justificativas bastante sérias para querer realizar o batismo em uma de nossas comunidades, nesses casos usamos a compreensão pastoral e exercitamos as palavras do próprio Jesus: “de graça recebestes, de graça dai” (Mateus 10:8). É preciso lembrar que não somos donos dos sacramentos, não podemos determinar quem vai ou não recebê-los, eles não nos pertencem, são sinais divinos.

5- Há restrições para ser aceito na igreja?
Não, não existe nenhuma restrição para você se achegar a Igreja Anglicana. Venha como você está! Contudo, é preciso saber que a Igreja Anglicana preza muito o seguimento de Jesus e a ética do reino de Deus. Se existe alguma coisa em sua vida que não está de acordo com o projeto divino você será estimulado através de sermões, estudos bíblicos, práticas de espiritualidade e conversas pastorais, a abandonar isso e busca a santidade. Como ensina o apóstolo Paulo: “vos despojeis, quanto ao procedimento anterior do velho homem, que é corrompido conforme as concupiscências enganosas; e vos renoveis no espírito da vossa mente; e vos revistais do novo homem, que é criado segundo Deus em justiça e verdadeira santidade” (Efésios 4:22-23).

6- Por que os reverendos e reverendas anglicanas podem casar?
A Igreja Anglicana considera a sexualidade um dom divino. Na narrativa do Gênesis fomos feitos um casal para vivermos nossa experiência erótica, e isso foi muito bom aos olhos divinos (Gênesis 1:27,28). Não podemos reprimir algo que faz parte da nossa natureza. Se quisermos olhar o Novo Testamento veremos que não existe nenhuma restrição ao casamento das lideranças cristãs, o apóstolo Pedro era casado e em nenhum lugar se afirma que ele tenha abandonado essa condição. São Paulo propõe aqueles que querem se dedicar ao ministério cristão que o façam de forma exclusiva, evitando o casamento, por outro lado reconhece que para alguns é melhor viverem a sua sexualidade de maneira sadia (1 Coríntios 7:9). Existem pessoas no anglicanismo que, por razões diversas, no seu engajamento cristão preferem não constituir família. Cremos que isso não pode ser uma imposição, é uma questão de opção e carisma.

7 – Por que na Igreja Anglicana as mulheres podem se tornar reverendas?
A ordenação de mulheres a nossa Igreja não é uma coisa intempestiva, na verdade é um processo que teve início há muito tempo. Florence Li Tim Oi, da Igreja de Hong Kong, foi a primeira mulher ordenada ao presbiterado a Comunhão Anglicana, em 1944. No caso do nosso país, a primeira mulher foi ordenada foi a Revda. Carmen Etel Alves Gomes, em 1985. Atualmente a Revda. Carmen e responsável pela Catedral de Santa Maria, em Belém.

Nossa compreensão é que as restrições impostas as mulheres na Escrituras são expressões culturais próprias da época em que foram escritas, mas a perspectiva cristã é a da inclusão de todas as pessoas, como escreveu o apóstolo Paulo: “Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28).
A presença da mulher nas instâncias de decisão (poder) da Igreja tem consolidada uma experiência de humanização das relações e aberto novas perspectivas para a pastoral cristã. Todavia é preciso dizer que essa não é uma questão pacífica, existem províncias e dioceses na Comunhão Anglicana que ainda se posicionam de forma contrária ou que admitem mulheres em apenas algumas das três Ordens Sagradas.

8 – Quais são os principais ritos do Anglicanismo? Como são as celebrações anglicanas?
Os anglicanos adotam como padrão para suas liturgias o chamado Livro de Oração Comum (LOC). Embora esse livro contendo ritos e orientações para as práticas litúrgicas da Igreja tenha sofrido muitas reformas e adaptações através dos tempos e das diversas regiões do planeta, conserva uma tradição e uma estrutura que faz com que seja reconhecido por toda família anglicana.
No Livro de Oração encontramos que a celebração da Eucaristia é o rito central, mas ele próprio oferece outros ritos para serem utilizados pelas comunidades comunidades anglicanas conforme a necessidade, incluindo ritos da palavra como a oração matutina e vespertina, ritos pastorais, etc. Além disso, com autorização do bispo, os anglicanos podem utilizar liturgias especiais e contemporâneas.

O Livro de Oração como padrão não engessa as celebrações, como em qualquer denominação cristã, as celebrações variam de comunidade para comunidade. Em alguns lugares mais informais e espontânea, em outros mais formais e ritualistas. O importante é que a junção entre as tradições católica e protestante faz com que católicos romanos e evangélicos se identifiquem e se sintam confortáveis durante as celebrações anglicanas.

9- Posso participar das atividades sociais da igreja mesmo não sendo anglicano?
Os eventos das comunidades anglicanos são abertos e todas as pessoas de boa vontade são convidadas a participar deles. Nossa intenção é que todos contribuam de alguma forma para o bem comum, em nenhum momento queremos que você mude de religião ou de tradição cristã. Nossa Igreja quer ser um sinal do reino de Deus no local onde ela estiver instalada.

10- Por que a Igreja Anglicana se diz ecumênica?
Na sua própria origem a Igreja Anglicana abarcou uma grande diversidade de expressões da fé cristã. Por isso, para nós o ecumenismo não é uma opção, mas faz parte do nosso “ethos”, um traço característico da nossa identidade. O ecumenismo deve ser entendido aqui como aceitação do outro e o respeito a sua maneira de pensar. Buscamos a unidade na diversidade. Isso fez com que através dos tempos os anglicanos manifestassem uma grande capacidade para o diálogo, estando sempre presentes na constituição de instâncias ecumênicas e inter-religiosas. Aqui mesmo na região Amazônica participamos da criação da UNIPOP (Instituto Universidade Popular), do CAIC (Conselho Amazônico de Igrejas Cristãs), da ACER (Associação Amazônica de Ciências Humanas e da Religião) e do Comitê Inter-religioso do Pará.

11- Qual a relação da Igreja Anglicana com a política?
Concordamos com a afirmação do filósofo grego Aristóteles de que o ser humano é um animal político. Não há como escapar a essa condição pois de uma forma ou de outra participamos da sociedade, nos relacionamos com outras pessoas, tomamos decisões que interferem na vida de todos. Muito mais as instituições sociais, como as Igrejas, tem profundo papel no cenário político.

Na Bíblia também fica claro que a participação politica do povo de Deus é uma condição intrínseca ao seu papel no mundo. Foi assim no período dos patriarcas e matriarcas, no Êxodo, na ação dos profetas e sacerdotes, na prática das comunidades de Jesus de Nazaré. Foi assim em toda a história da Igreja Cristã.

Então, a questão não é se a Igreja tem ou não relação com a política, intrinsecamente tem. Mas, como a Igreja se posiciona politicamente. Para nós, anglicanos está claro que a missão da Igreja inclui: responder às necessidades humanas através de um serviço de amor; buscar transformar as estruturas injustas da sociedade; preservar a integridade da criação, sustentando e renovando a vida da terra. Todos esses gestos políticos que procuram alcançar o bem comum, a proposta cristão do reino de Deus, onde todos tenham vida em abundância (João 10:10).

12- Há dogmas na igreja Anglicana?
Se entendermos dogmas como princípios fundamentais que norteiam uma religião, podemos afirmar que sim, os anglicanos tem também os seus conceitos básicos e orientadores. Mas, a Igreja Anglicana também compreende que os dogmas precisam ser relidos ou atualizados nos novos contextos. A necessidade da revisão dos dogmas é fundamental para nossa compreensão de Igreja. A Reforma Protestante deixou para nós a concepção de que a Igreja deve estar sempre se reformando.

Poderíamos dizer de maneira simples que quatro coisas são fundamentais para os anglicanos, isso encontra expresso no chamado Quadrilátero de Lambeth: 1) As Sagradas Escrituras do Antigo e Novo Testamento como única regra de fé e prática; 2) Os enunciados dos credos Apostólico e Niceno; 3) Os sacramentos instituídos por Jesus Cristo: o Batismo e a Eucaristia; 4) A forma de organização eclesiástica episcopal nas suas diversas formas de manifestação histórica.

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