Informativo CEA
VI Congresso de Gênero e Religião:
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Forjando a Academia como lugar de acolhimento/alimento da esperança.
Desde a chegada para a VI edição do Congresso de Gênero e Religião, na Faculdades EST, São Leopoldo/RS, pude constatar com ainda mais intensidade o que vivi nas edições anteriores que participei: o Congresso torna a Academia um lugar de afeto.
A representação episcopal anglicana presente foi ativa e participativa: Revda. Lúcia Dal Pont e Revda. Carmen Etel, coordenadoras do Centro de Estudos Anglicanos (CEA); Revda. Leane de Almeida, Revda. Maria de Fátima Nascimento, Rev. Caio Lacerda, ministro leigo e estudante de Teologia Antonio Amaro do Nascimento Filho, Profa. Dra. Ana Cláudia Figueroa, Caetano de Freitas Borges Dorneles e Revda. Dra. Lilian Conceição da Silva (painelista da Mesa de encerramento do Congresso).
A presente edição aconteceu de 14 a 17 de agosto de 2019 e contou com a participação de pesquisadoras, pesquisadores, religiosas (marcante participação de mulheres de tradições de matrizes africanas), religiosos e ativistas de cerca de quatro continentes (América, Europa, África e Ásia). Uma programação extensa e intensa, com o tema geral “Vulnerabilidade – Resistência – Justiça”, oportunizou painéis, oficinas e grupos de trabalhos simultâneos, de modo a possibilitar que as mais de 400 participantes, com o auxílio de tradutoras e tradutores, vivenciássemos troca de pesquisas e de experiências; mas, sobretudo, de empatia, de sorrisos, de afagos e de afetos.
O Congresso de Gênero e Religião há muito se consolida como lugar de encontros, reencontros, acolhimento, alimento, saberes, sabores e oportunidade de gestações de esperanças. Já na primeira noite, na abertura do evento, fomos convidadas a nos darmos as mãos e em procissão cantarmos o mantra “ninguém largar a mão de ninguém!”.
Ouvimos sobre o desafio permanente de reconhecermos a Bíblia como um dentre outros textos sagrados, que igualmente merecem respeito. Ouvimos sobre a desafiadora e necessária tarefa de aproximar nossos discursos acadêmicos de nossas práticas pastorais. Vimos mulheres negras compartilharem suas pesquisas. Ouvimos denúncias e análises sobre o genocídio da juventude negra. Celebramos estar na presença e compartilhando sonhos com teólogas, pastoras, ativistas e lideranças cristãs feministas na Red TEPALI. Alegramo-nos por constatar que “somos plurais e polifônicas” (testemunho da amiga, irmã e também teóloga Genilma Boehl). Fortalecemos a compreensão de que a escrita deve continuar sendo uma ferramenta de resistência nossa. Ouvimos estudos sobre feminicídio e as denúncias de que temos sido assassinadas por ódio misógino. Ouvimos a denúncia que não há lugar seguro para nós e fortalecemos a percepção de que cada vez mais se torna necessário que nossas igrejas e terreiros sejam espaços seguros para nós e nossas irmãs. A todo momento nos encantamos com a diversidade geracional presente nesta edição do Congresso, com a presença notória de muitas mulheres jovens. Vimos a diversidade étnico-racial. Revimos e também conhecemos artesãs que forjam meios de subsistência e de resistência.
O que vimos e vivemos do muito que lá aconteceu, fez-nos avivar ainda mais os ecos de testemunhos recentes que trazemos conosco de vivências pastoral, docência, outras de nós na militâncias: a importância de que nossos discursos e práticas promovam o fortalecimento de nossas esperanças e que nosso papel na Academia deve ser o de ajudar a Ciência a melhorar, a cada vez mais humanizar-se, porque nascida de nós, seres humanos.
Essa tônica da esperança é que aqui assumo, pois é a que me inspira Jesus Cristo, motivo maior do meu ativismo. E creio que é a mesma de uma de nós que ali estava. A esperança que foi fortalecida e confirmada nos quatro dias de Congresso, compartilhando da potência de testemunhos de articulação, mobilização, consciência ancestral e resistência a partir, especialmente, da luta histórica de mulheres, sobretudo de mulheres negras, através de suas organizações e de seus muitos modos de forjar resistências para enfrentar às muitas vulnerabilidades impostas pelo sistema vigente que é classista, sexista, racista e homofóbico.
Nestes tempos difíceis que vivenciamos no mundo, especialmente aqui na América Latina, façamos eco ao grito profético de Margarida Alves, sindicalista agricultora paraibana, assassinada há 36 anos (cuja memória foi afirmada nos dias do Congresso): "Da luta não fujo. É melhor morrer na luta do que morrer de fome". Margarida Alves?! PRESENTE! Este eco alimenta a minha esperança de dias melhores aqui, acolá e em todo mundo! Que sejamos canais de RUAH para que isso seja conquistado o quanto antes!
Revda. Dra. Lilian Conceição da Silva
Coordenadora do Abraço Negro – Pastoral Afro da Diocese Meridional
Membro da Comissão Nacional de Incidência Pública, Direitos Humanos e Combate ao Racismo
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