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“Onde houver ódio, que eu leve o Amor”
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Estamos vivendo um tempo de desamor, desrespeito, violações de direitos básicos da pessoa humana. Nas ruas, agressões às pessoas diferentes por conta da condição social, do campo de pensamento, do gênero. País dividido, violências banalizadas. Esse contexto é mais do que atual, é real. Cabe em qualquer crônica dos nossos dias, em qualquer das nossas cidades, pequenas ou grandes, em qualquer das nossas capitais. No entanto, era a conjuntura de uma pequena cidade da Úmbria (região central da Itália) entre os anos de 1182 e 1226, chamada Assis, terra natal de um certo Francisco Bernardone.
No momento em que a guerra era iminente, Assis e Perúgia em conflito (embalado e alimentado principalmente pelos “homens de (e da) fé”), toda a sociedade estava evolvida e embriagada com o belicismo vigente. Por diversas razões, políticas, financeiras e religiosas, cada qual se colocava de algum dos lados. Para os jovens, ambiciosos para obter um título de nobreza, uma oportunidade ímpar. Para Francisco, um “chamado” natural. Servir a um nobre cavaleiro e também se tornar um. Servir a um “servo do Senhor”.
Em tempos de ódio, desamor, desrespeito, violação de direitos básicos, vilipêndio das comadas mais pobres e desprotegidas da sociedade, iniciativas diabólicas de desumanização das mulheres, de utilização da Religião como seara para a difusão de preconceitos, opressões, intolerâncias, como estamos testemunhando em nosso País, nesse século XXI, principalmente a nossa juventude, em similaridade com a juventude de Assis, é incentivada a acreditar que pegar em armas é a solução para os pavorosos problemas da atualidade.
Na Assis daquela época havia pobres. Havia muitas pessoas pobres. Havia pessoas leprosas, mendigas; pessoas na mais absoluta exclusão. Mas a propaganda política dizia que a saída era armar a população “de bem” contra o inimigo comum. E assim se alistaram iludidos e inebriados por essas ideias panfletárias, Francisco e seus companheiros.
A guerra entre Assis e Perúgia causou muitas mortes, muitas prisões e grandes estragos na vida das populações. As pessoas pobres foram, como ainda hoje o são, as grandes vítimas das maquinações das elites.
E Francisco caiu! E Assis se rendeu! Depois do cárcere, retorna nosso fratello ao seu fracasso, à Assis caída, como bem ensinava Paulo de Tarso: “quando sou fraco, então é que sou forte” (II Coríntios 12:10). É neste momento que Ruah encontra terreno fértil para a vocação. O que parecia terra arrasada é, na verdade, campo sagrado a ser arado e semeado.
Francisco,
Restaura a minha Igreja
E renova o meu povo
Em torno dessa Mesa.
Terás que abandonar
Orgulho e riqueza
Terás que te abraçar
Com a Dama Pobreza.
Por trás da vida há morte
Por trás da morte há vida
Viva em serenidade
Gerando novas vidas.
Em tua fé, Francisco,
Revelas o meu rosto.
A ti entrego, amigo,
As chagas do meu corpo 1.
E do coração de nosso cortês cavalheiresco nasceram luminosas rosas de amor e jorraram gotas de céu do Terreiro de Ruah, anunciando que é possível, naqueles montes e vales, naquelas ruas e praças daquela Assis caída, triste, dividida pelo ódio, pelos preconceitos e intolerâncias (naquela longínqua transição do século XII par ao século XIII), assim como é possível em nossas cidades, em nossos estados, em nosso País, cantar a oração do pequeno irmão de Assis:
“Onde houver ódio, que eu leve o Amor!”
Que Francisco de Assis nos ajude a lembrar a cada dia, e não apenas neste 04 de outubro, que é melhor servir ao Senhor, O Nosso Senhor, O Servo Sofredor (Isaías 53:1-12), Evangelho, O Príncipe da Paz (Isaías 9:6).
Que Francisco de Assis nos constranja com sua mística e poesia, com sua radicalidade e fidalguia, com sua ternura e com seu vigor, a rogarmos, neste tempo chamado agora:
“Fazei-nos instrumentos de tua Paz, Ruah Divina!”
Antonio Amaro – Missão da Liberdade – Diocese Anglicana do Recife
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1. Canção “Em torno dessa Mesa”, composição de minha autoria, em Olinda/Pernambuco, outubro de 2005.
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