Partilha Ministerial Área III - Nov. 2018
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Dioceses de Brasília, Recife, Amazônia e Distrito Missionário
Novembro de 2018 – Campo Grande – MS
O encontro torna mais e transforma sempre. Por isso a comunidade cristã gosta de se encontrar e manter-se conectada. A Área III da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil encontrou-se em Campo Grande, a cidade morena do coração de muita gente, a porta para o Pantanal e lugar de muito conflitos. Também o lugar da segunda maior concentração de população indígena em nosso país. Lugar esse onde temos uma comunidade que procura ser uma parábola do amor de Deus nestas terras e um lugar onde nossa Igreja tem estado permanentemente em solidariedade com os povos indígenas, ameaçados de morte, extinção e toda sorte de violências. É por isso que:
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
(Roda Viva, Chico Buarque)
Éramos gente das três dioceses da região e do Distrito Missionário, que nos acolheu beneditinamente: fomos a visita do Cristo ali (Regra de São Bento). A celebração de abertura nos mergulhou mais no tema do encontro: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente” (Rm 12:2a).
Cantamos juntas a música do Chico, Roda Viva, como memória rebelde e persistente de que somos movimento de resistência e somos resilientes pela graça de Deus nesse contexto de violências, desigualdades e uso do discurso religioso pra compactuar com tudo isso. Tempo de pedir perdão e de rever nossa fala, nosso lugar de fala, nossas ações e nossa capacidade (ou incapacidade) de expressar coerência com os valores do Reino de Deus. Juntamos nossos lenços, juntamos nossas mãos nessa “roda gigante” das nossas vidas como crentes militantes pela vida, paz e reconciliação.
O tema do encontro “Vivendo o chamado de Cristo no mundo em transformação” nos guiou todo o tempo, no caminho da oração e da ação em nossos ministérios em cada lugar das nossas dioceses e distrito missionário. A celebração eucarística de abertura nos alimentou espiritualmente para acolher o momento difícil que vivemos no contexto brasileiro, para nos lembrar que somos gente da palavra e ação que cura e que liberta, para nos lembrar que somos chamadas a orar por todas as pessoas, mesmo as que nos amaldiçoam ou nos fazem mal, para nos assegurar que não estamos sozinhas, pois “Deus é Conosco”, especialmente através da comunidade, e que ‘ninguém solta a mão de ninguém’.
Partilhar (koinonia) é um dos pilares da vida cristã, junto com a oração e a ação pastoral (Ora et Labora). O primeiro momento do encontro foi dedicado a “partilha ministerial” entre as dioceses e distrito missionário. O que temos feito, desafios, alegrias, lições aprendidas e compromissos mútuos foram algumas das coisas que se compartilhou. Havia também um lugar dedicado a expor os materiais e trabalhos feitos na região. Uma “feira Missionária”. Bastante frequentada ajudou bastante a todas presentes a experimentar um pouco de uma região que não é a sua.
O momento do estudo bíblico foi realizado em dois grupos, um facilitado por Paulo Ueti (da Diocese Anglicana de Brasilia) e outro por Edmilson Schilelo (Católico Romano e do CEBI). Foi uma tarde toda de leitura orante, um pouco de exegese e procura atenta do que Deus quer nos dizer com essa palavra de Romanos 12, particularmente o verso 2: “E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente...”
Na partilha em grupos fomos descobrindo que:
- a vocação cristã nos chama a inconformidade, à indignação diante da desigualdade e injustiça;
- somos chamadas a ter ‘um olhar de Deus’ – configurar nossa vida do jeito da vida de Jesus;
- todo ponto de vista é a vista do ponto, o lugar de fala e o lugar do ministério é fundamental nas nossas interpretações da Bíblia e da vida;
- a diversidade está na natureza da comunidade cristã e por isso deve ser celebrada como sacramento do Cristo em nosso mundo;
- a formação deve ser sempre contínua, para que possamos aprender umas das outras e, assim, ter nossas mentes (pontos de vista, verdade, teologias, ideologias) transformadas para o que é agradável a Deus;
- a leitura orante e o estudo da Bíblia são estratégias fundamentais no processo de transformação da mente e do contexto, somos chamadas a fazer mais isso em nossas regiões;
- o ministério da comunidade é no mundo, não para si mesma;
- transformação, militância e acolhida são elementos constitutivos da ação missionária, confiada a nós por Deus;
- a compreensão do contexto (nossos pessoais, políticos e também dos textos sagrados) é fundamental para uma ação mais eficaz em direção ao Reinado de Deus.
Para aprofundar o tema do Sínodo da Igreja do Brasil foram convidadas três pessoas:
- Revda. Lucia Dal Ponti (Coordenadora do CEA), para falar Missão, Raça, Gênero, Sexualidades;
- Paulo Ueti (da Diocese de Brasília) para falar sobre Missão e Ação Pastoral
(apresentação disponível AQUI); - Edmilson Schinelo (do CEBI) para falar sobre Missão e Desigualdade Social
(apresentação disponível AQUI).
As partilhas das pessoas que facilitaram esse momento giraram em torno da necessidade de conectar nossa missão, que é a Missão de Deus (MISSIO DEI), ao mundo em transformação e que grita por redenção (Rm. 8:26). Sempre baseadas nas Marcas da Missão da Comunhão Anglicana o grupo acolheu as apresentações com o compromisso de continuar a reflexão em suas dioceses e no distrito missionário. É fundamental perceber que as 5 marcas da missão são interligadas e não podem ser trabalhadas isoladamente. O chamado de Deus para que sejamos colaboradoras dele é amorosamente impossível de recusar, quando “ouvimos” atentamente (Dt. 6:4 e Regra de São Bento – Prólogo):
Levantemo-nos então finalmente, pois a Escritura nos desperta dizendo: “Já é hora de nos levantarmos do sono”. E, com os olhos abertos para a luz deífica, ouçamos, ouvidos atentos, o que nos adverte a voz divina que clama todos os dias: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não permitais que se endureçam vossos corações”, e de novo: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o que o Espírito diz às igrejas”. E que diz? – “Vinde, meus filhos, ouvi-me, eu vos ensinarei o temor do Senhor. Correi enquanto tiverdes a luz da vida, para que as trevas da morte não vos envolvam”.
E procurando o Senhor o seu operário na multidão do povo, ao qual clama estas coisas, diz ainda: “Qual é o homem que quer a vida e deseja ver dias felizes?” Se, ouvindo, responderes: “Eu”, dir-te-á Deus: “Se queres possuir a verdadeira e perpétua vida, guarda a tua língua de dizer o mal e que teus lábios não profiram a falsidade, afasta-te do mal e faze o bem, procura a paz e segue-a”. E quando tiveres feito isso, estarão meus olhos sobre ti e meus ouvidos junto às tuas preces, e antes que me invoques dir-te-ei: “Eis-me aqui”. Que há de mais doce para nós, caríssimos irmãos, do que esta voz do Senhor a convidar-nos? Eis que pela sua piedade nos mostra o Senhor o caminho da vida.
O próximo passo foi rever o planejamento feito até agora e adaptá-lo para o próximo período. Algumas decisões foram tomadas:
- A Bispa Marinez Bassoto é a nova coordenadora da Área, conforme tradição de rotatividade na área;
- Foi formada uma comissão de ajuda para a Bispa: Paulo Bassoto (Diocese da Amazonia), Cláudio Linhares (Diocese de Recife), Sergio (Distrito Missionário) e Paulo Ueti (Diocese de Brasília);
- Essa equipe, junto com a Bispa Marinez, irá ajudar a refinar o planejamento a partir das contribuições das dioceses e do Distrito Missionário. Esse refinamento precisa incluir, para cada projeto/ação: objetivos, justificativa, indicadores, processo de avaliação, prazos;
- É fundamental que haja, na coluna de responsáveis, nomes das pessoas que podem se comprometer com a ação/projeto, não somente o sodalício;
- A equipe de “coordenação” irá reunir os recursos já existentes em relação ao tema da Identidade Anglicana, para poder compartilhar melhor com a Área III;
- Há uma equipe que se responsabilizará pelo planejamento de intercâmbio de ministérios e sodalícios. Bispos e Bispa;
- Concordou-se em organizar um seminário de sustentabilidade, focando na partilha do que já existe de esforço nesse sentido;
- Sugeriu-se o nome de Rafael Vilaça, da Diocese de Recife, para animar a Comunicação na Área III (a confirmar com o mesmo);
- Organizar pelo menos um retiro da Área ou alguns por diocese;
- Avaliar a viabilidade de fazer encontros na Área por Sodalícios;
- Trabalhar intencionalmente a formação e capacitação de lideranças e clérigas/os a partir das Marcas da Missão. Produzir material, compartilhar o que já existe, organizar encontros de reflexão sobre as marcas com candidatas/os e lideranças leigas, bem como com clérigas/os na ativa;
- Insistir na área de incidência política: igualdade de gênero, justiça climática, luta contra racismo, desigualdades econômicas/sociais;
- Assumir como região o projeto do Discipulado Intencional da Comunhão Anglicana. (A Revda. Tatiana Ribeiro é membro do grupo global de animação).
A partilha ministerial foi um momento rico e de mútuo aprendizado, lamento e fortalecimento da fé e da espiritualidade em nossa tradição anglicana. Foi muito importante haver momentos livres e de convivência para que as irmãs e irmãos pudessem encontrar-se e compartilhar a vida, trocar informações, fazer articulações e planejar para o futuro.
Somos muitas e um só corpo. Esses dias foram testemunha da nossa capacidade de sermos uma parábola do Cristo em nosso mundo, de nos questionarmos e de juntas, buscar entendimento e cumplicidade nestes contextos de tanta intolerância e violência.
Estar no Mato Grosso do Sul, reforça nosso compromisso, como Igreja de Deus, com os povos indígenas e com a mais absoluta inclusividade que possa existir. As celebrações eucarísticas e as orações da manhã foram essenciais para alimentar nosso espírito, estabelecer o tom do dia e louvar ao Deus que caminha conosco e nos chama para ir ao encontro de quem necessita. A celebração eucarística na Paróquia da Inclusão, em Campo Grande, contou com a presença de representantes dos movimentos sociais e de organismos ecumênicos aos quais nossa igreja tem relação, com destaque a participação do Cacique Guarani-Kaowá Ezequiel (cujo impactante testemunho pode ser visto nos vídeos abaixo) e da Guarani-Kaiowá Damiana (que nos ofertou um cântico litúrgico em sua língua). Foi um testemunho de solidariedade e uma chamada de Deus para que nós aprofundemos nosso compromisso, nossas orações e nossa capacidade de responder com amor e carinho às necessidades de quem mais precisa.
Vídeo 1
Vídeo 2
Vídeo 3
Que belos...
Que belos e infinitos são Teus nomes, ó Senhor Deus.
Tu és chamado pelo nome
de nossos desejos mais profundos.
As plantas, se pudessem orar,
invocariam nas imagens das suas flores mais belas
e diriam que tens o mais suave perfume.
Para as borboletas Tu serias uma borboleta,
a mais bela de todas, as cores mais brilhantes,
e o teu universo seria um jardim...
Os que estão com frio Te chamam Sol...
Aqueles que moram em desertos
dizem que Teu nome é Fonte das Águas.
Os ófãos dizem que Tens o rosto de Mãe...
Os pobres Te invocam como Pão e Esperança.
Deus, nome de nossos desejos...
Tantos nomes quantas são nossas esperanças e desejos...
Poema. Sonho. Mistério.
(adaptação de textos de RUBEM, Alves, org., CultoArte: celebrando a vida - advento/natal/epifania.
Petrópolis: Vozes, 1999.
Paulo Ueti, Diocese Anglicana de Brasília.
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