Nossa Senhora de Walsingham
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15 de agosto é o dia, no calendário litúrgico romano, de Nossa Senhora da Glória. Esta devoção dá conta da percepção ou crença romana de que a Virgem Maria foi “Assunta em Corpo e Alma ao Paraíso”, e é identificada ou identificável com a mulher coroada de estrelas de Apocalipse 12, cuja estética é transferida para as esculturas ou imagens ou ícones da Virgem Maria com vestes que refletem aquela imagem de Apocalipse.
A vertente reformada de Teologia sobre Maria, presente na IEAB e em outras igrejas da Comunhão Anglicana e que encontra por exemplo em Heirich Bullinger, João Calvino e Martinho Lutero interessantes contribuições sobre a percepção de quem é Maria na História da Salvação, é essencialmente encarnacional.
Isto significa que toda a admiração, reverência ou mesmo devoção que se tem por Maria segundo a lógica da Reforma (e nossa Igreja é Reformada) deriva do fato de Maria ser a mãe de Jesus (Theotokos).
Por isto e portanto, não é usual (embora não seja proibido) a utilização ou exibição de Maria isolada, mas sempre com o Menino Jesus no colo, como a imagem que hoje trazemos, de Nossa Senhora (Our Lady) de ******** (colocar aqui a devoção de escolha).
O que queremos dizer com isto não é que Maria não seja importante ou que não resida no Paraíso eterno, mas que o Paraíso eterno, que é Jesus, encontrou nela sua morada, razão pela qual ela é Theotokos, a “portadora” (tokos) de Deus (Theo).
Este é o grande desafio da vida de todas as pessoas cristãs: encontrar o paraíso dentro de si, porque descobrirmos que Deus está no Meio de Nós. Se o Paraíso, em Jesus, desceu a nós e podemos o tocar e pegar no colo e observá-lo correndo no meio do pó e poeira de nossa vida comum e em comum, porque nos preocuparmos se o pó que somos sobe ou não ao céu?
Diante de Maria, com seu filho ao colo, nosso convite é também o que Isabel recebeu e viveu: sentir nossas próprias esperanças de continuidade, para ela (Isabel) João Baptista em seu ventre, estremecerem-se de alegria, saltarem dentro de nós como criança “chutando” no ventre da mãe.
Olhemos com atenção, cuidado, reverência, devoção, a Bem Aventurada Virgem Maria, aquela que carrega o Paraíso no ventre, como presumido nas representações de Nossa Senhora da Gloria, ou nos braços, como presente nas representações mais tradicionais do Anglicanismo.
E, com Bullinger, também podemos crer, se assim desejarmos : “Hac causa credimus et Deiparae virginis Mariae purissimum thalamum et spiritus sancti templum, hoc est, sacrosanctum corpus ejus deportatum esse ab angelis in coelum.” (Em função disto, cremos que a Virgem Maria, portadora de Deus, cama suave e mais puro templo onde Deus pousou, por isto, teve seu sacrossanto corpo realmente carregado por anjos ao céu”) – De Origine Erroris, Cap XVI Caput.
Bullinger acolheu diversos fugitivos ingleses reformados durante o reinado de terror de Rainha Maria I (A Maria Sangrenta ou Bloody Mary, implacável perseguidora de não-romanos na Inglaterra seiscentista) em Zurich, que quando retornaram à Inglaterra ao fim do reinado de Maria , já na era elisabetana, espalharam a Teologia de Bullinger pelas escolas e seminários teológicos daquele país. Bullinger é considerado por muitos uma das maiores influencias teológicas na Reforma Anglicana, da qual fazemos parte, e o bullingerismo, controversa teoria ultradispensacionalista do fim do século XIX, foi elaborada por um de seus descendentes, Etherlbert W. Bullinger.
Se a IEAB venera Maria como partícipe das delícias do Paraíso em seu próprio corpo?
Claro!
Mas do jeito de Bullinger.
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