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Reagindo ao comunicado da Câmara Episcopal da IEAB de 31/07/2022
Rev. Dr. Julio Eduardo dos Santos Ribeiro Reis Simões – DARJ
Equipe de redes sociais do CEA
A delegação da IEAB na conferência de Lambeth tem sido, corretamente, identificada como uma delegação de uma província progressista (que aceita o casamento homoafetivo, que ordena(ria) pessoas LGBTQIA+ casadas inclusive ao episcopado, que ordena mulheres) pela ala conservadora da Comunhão Anglicana, representada pelo grupo de igrejas alinhadas à GAFCON, e que não aceita algum ou vários destes pontos que por aqui foram construídos ao longo dos concílios e, sobretudo, sínodos.
Os bispos da GAFCON têm se negado a comungar com pessoas LGBTQIA+ ou com bispos de dioceses que aceitam o casamento homoafetivo, etc. E muita gente está apavorada, pensando que isto significa que a igreja está se tornando conservadora. Bem... Não deveria!
Isto porque a Comunhão Anglicana tem como um de seus princípios fundamentais a tensão entre seus componentes, e sempre houve e haverá insatisfações.
Estruturas de comunhão são, em uma frase curta, necessariamente tensas, e não se força a equalização das diferenças, mas ao contrário se as celebra.
É óbvio que a atitude dos bispos conservadores significa que eles não compreendem a Comunhão como tal, mas o principal erro de nossa parte seria embarcar neste erro e acreditar que a conferência (leia: não é um concílio! não é um sínodo!) teria algum papel de legislar sobre as províncias. Na verdade, nada na comunhão legisla sobre as províncias, elas é que legislam sobre si mesmas...
O que acontece (ou não) em Lambeth NÃO TEM A MENOR IMPLICAÇÃO DIRETA SOBRE A IEAB.
Isto porque a conferência de Lambeth não tem caráter decisório sobre nenhum aspecto de nenhuma das igrejas da Comunhão, mas apenas trata de aspectos de comunhão, que é um arranjo meramente político entre as igrejas.
Todos estamos tristes com o conservadorismo ganhando espaço, e expressando este ganho em Lambeth por meio dos protestos dos auto entitulados "bispos ortodoxos", que se negam a comungar com pessoas LGBTQIA+, e que nada mais são que conservadores a serviço de pautas moralistas, sendo que estas pautas ocultam por vezes interesses muito mais escusos, principalmente setorização de "mercado religioso" dentro de suas igrejas provinciais. Todos estamos tristes, mas estaríamos erradíssimos em pretender que a IEAB reaja ao que tem ocorrido lá no show de horrores, simplesmente porque na prática a gente (IEAB) não é legislado pela Conferência de Lambeth e nem obedece ao arcebispo de Cantuária, em função da estrutura em torno de Lambeth ser a lógica da Comunhão de igrejas e não de uma mega igreja internacional, como é o modo de funcionar de algumas de nossas igrejas irmãs, notadamente a Igreja Católica Apostólica Romana, e que modela nosso pensamento imaginativo a respeito de Lambeth.
Lambeth não serve para legislar, mas é uma conferência, um encontro e local no qual se expressam e demarcam posições e alinhamentos, justamente como tem sido, em uma estrutura altamente plástica: a de Comunhão. As igrejas em Comunhão Anglicana, que são as províncias da mesma, tem direito inato em função da própria organização sinodal/em comunhão, que não prevê alguma esfera de governança mundial ou mesmo continental, enfim, nada para além de cada um dos sínodos provinciais.
Em nosso caso, o que decide qualquer coisa na IEAB é o sínodo da IEAB, que já decidiu pela acolhida de pessoas homossexuais há anos e pelo casamento homoafetivo em 2018. Não há perspectiva local para reformar esta decisão sinodal, mas ao contrário de a aprofundar, reafirmando a mesma com mais força.
E, no tecido da comunhão, estes atritos em torno de temas sempre existiu e vai continuar existindo, é da própria natureza sinodal da igreja. Não devemos ficar assustados, mas encarar com naturalidade política e já pensar no próximo passo político local. Porque, repito, o que Lambeth produz são apenas sugestões que tem a intenção de tratar aspectos da comunhão, razão pela qual inclusive deixaram de ser chamadas de "resoluções de Lambeth".
Mesmo se em algum arroubo de loucura ou as igrejas conservadoras ou progressistas fossem punidas (o que é praticamente impossível), perdendo prestígio, todo o restante da comunhão seguiria adiante porque a comunhão tem elasticidade conceitual suficiente pra isso. Se alguma província fosse expulsa por causa de alguma decisão conciliar local, sobre este ou qualquer tema, a comunhão teria se suicidado e se dissolveria... E a vida continuaria, igualmente, provavelmente em outra estrutura de comunhão. Não seria o fim do mundo, mas o fim da comunhão porque ela trairia seu pressuposto básico, que é o de autonomia provincial.
Por isto, amiga leitora, fique triste (eu também estou!), mas mantenha a calma. Bote a boca no trombone, mas fique tranquila. Fique tranquilo, amigo. Fiquemos todxs tranquiles…
Não haverá, a priori, repercussões de retorno ao conservadorismo por aqui. Até porque temos, na câmara episcopal atual do Brasil, apenas pessoas levemente conservadoras em alguns pontos, que nem chegam perto das posturas que estão se ensaiando por lá.
Estejamos e permaneçamos em paz, porque a Sua Paz Ele nos deu.
As pessoas de todas as identidades de gênero são e continuarão a ser, sem dúvida, bem vindas.
Por fim, outro ponto, para mim irônico, deixo por último: se os bispos "ortodoxos" se negam a comungar com parte da Comunhão, é porque eles (os ortodoxos) já se consideram fora desta comunhão que inclui aqueles com quem não querem comungar. Se assim é, foram fazer o que em Lambeth?
Paz e Fogo, com Justiça e Equidade!
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